Um bom motivo para concordar com este texto:
Àquele que é capaz de fazer infinitamente mais do que tudo o que pedimos ou pensamos, de acordo com o seu poder que atua em nós, a ele seja a glória na igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo o sempre! Amém!
Efésios 3:20,21
Em 14 de junho de 2017 tive um dia inesquecível. Conforme publicado na minha página do facebook, experimentei a alegria do nascimento de meu sobrinho-neto dinamarquês e a angustia da descoberta de um quadro de trombose na perna direita, já lesionada pelo rompimento do tendão de aquiles na junção musculo-tendíne, por conta de querer jogar basquete como garotinho.
Foi um
dia de oscilação de emoções. Mas não foi inesquecível pela oscilação, mas por
experimentar o cuidado e providencia de Deus nos momentos difíceis e
angustiantes. Providência manifesta em conseguir atendimento em uma
especialista vascular sem marcar consulta no mesmo dia, através da dedicação de
um amigo de trabalho. Providência em receber ligações de outros colegas
manifestando apoio, solidariedade e preocupação. Providência no apoio de familiares que nos
socorreram de diversas formas.
Mas
após este dia, descobri que minha lesão no tendão me traria dificuldades
maiores além do que ela mesma já tinha o poder de infrigir. Não bastasse o uso
da bota imobilizadora, seria necessário passar os próximo 30 dias absolutamente
deitado com a perna para cima e ganhando um companheiro que não me abandonaria
nos próximos meses, o anti-coagulante. Difícil para alguém acostumado com a
autonomia de ir e vir e com uma rotina cheia, aceitar o ficar deitado por um
tempo longo. Lembrei-me das palavras do Apóstolo Paulo, escritas na carta aos
Romanos 8:28 : “Sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que
o amam, dos que foram chamados de acordo com o seu propósito.” Mesmo angustiado
pela notícia de algo tão sério (trombose), lembrando do ocorrido com grande
amigo em tempos atrás, me confortei na
certeza de que Deus não nos desampararia (a mim e minha família).
Repouso
forçado vivido com resiliência e ânimo graças a recursos e pessoas que Deus dispensou
para que vivêssemos este tempo da melhor forma possível. Família dedicada a não
me deixar faltar nada, especialmente a esposa e os filhos. Família da Fé que
clamou aos céus por minha recuperação e trouxe uma alegria ao recebê-los para
um bate papo. Familiares, que há tempos não via, enfrentaram longas distâncias para me ver.
Amigos de trabalho que dedicaram tempo e interesse de saber sobre meu estado,
oferecer ajuda, ligar para consultar sobre assuntos que dominam amplamente
somente para me fazer sentir relevante e também dedicar suas orações a Deus em
meu favor. Não citarei nomes. Não quero produzir injustiças do esquecimento de
pessoas queridas e também não quero expô-las publicamente sem o devido
consentimento. Mas todos os queridos realizadores das ações aqui narradas
certamente se identificarão e acredito que compreenderão que o foco aqui não é
gratidão a eles, mas a Deus que manifestou sua providência e cuidado sobre
minha vida através deles.
Lentamente
as coisas foram voltando aos eixos. Sair do repouso com 30 dias. Retorno ao
trabalho mesmo com muletas, contando com a bondade e gentileza de todos que
contribuíram com algum tipo de ajuda para que pudesse me deslocar com o menor
esforço e nada me faltasse. Gesso
retirado com 45 dias. Saem as muletas, entra a bengala. Fisioterapia e pequenas
caminhadas. Deus continuava agindo provendo todos os recursos e gentileza de
vários queridos envolvidos neste processo lento de recuperação.
A cada
passo do tratamento me sentia mais animado. Exames confirmavam o progresso na recuperação
tendão e a recanalização de uma das veias. Isto me deixou muito animado. Mas,
ao final de outubro veio algo que não passava por meu radar. As coisas iam tão
bem que só conseguia visualizar o horizonte em céu de brigadeiro. Não parecia
ter lugar para nuvens. Ao fazer um exame de ultrassom para verificar as
condições do tendão após o processo de fisioterapia pedi ao radiologista que
examinasse as veias. Parecia ter certeza de a segunda veia estava recanalizada.
O resultado me jogou no chão. O ortopedista suspendeu o tratamento e não me
deixou passar a segunda fase sem o aval da vascular. A vascular não trazia bons
prognósticos. Já havia passado longo tempo da lesão. Em casos semelhantes é
normal o a recanalização e eliminação da trombose em até 6 meses. Fui
recomendado continuar com o anti-coagulante por um prazo de até um ano da
detecção da trombose. Sabe aquelas coisas que você topa fazer por desencargo de
consciência mas que no fundo a sensação é de que terá um resultado pífio?
Fiquei desanimado, mas pedi a Deus apenas uma coisa: “Senhor, se não for possível recanalizar esta veia, me ensine a viver
com isto ! Me conceda a melhor vida possível assim”
Liberado
para a segunda fase do tratamento, a musculação, inicie o processo com meus
companheiros de tratamento, o anti-coagulante e a meia compressiva. Dores ainda
me acompanhavam no calcanhar, fruto da falta de irrigação sanguínea nos
músculos. Temia por estar perdendo tempo, algo que odeio. Mas segui. Aos poucos
senti melhora nas dores. Minha passada de caminhar foi perdendo a mancada. O
peso diminuiu, as roupas mais justas entraram melhor na no corpo mais esguio. Internamente
me convencia que o prognóstico do ortopedista estava se cumprindo: “o corpo vai
encontrar outro caminho para irrigar seus músculos e tendões”. Pensava comigo, Deus
está realizando o que pedi.
Ao
final de maio o vascular já havia pedido uma consulta para acompanhamento. Pediu
novo ultrassom. Vamos nós novamente. No íntimo a curiosidade era para saber
confirmar como Deus tinha direcionado caminhos alterativos para o sangue chegar
calcanhar cada dia menos dolorido. Ao final do exame quase fui as lágrimas. Sem
perguntar nada ao radiologista, ele menciona que não há mais trombose. Todas as
veias estão recanalizadas. Não pude esconder minha cara de espanto. Enquanto me
arrumava para ir embora orei ao Senhor. Sai do instituto de radiologia
radiante. Olhos lacrimejados. Passos largos apressados com uma sensação de
leveza indizível. Cheguei ao carro. Não pude conter a ansiedade de ligar para
minha esposa. Tratei de outros assuntos, mas Luciane sabe quando minha voz está
diferente. Ficou tão aliviada quanto eu. Pedi que não contasse a ninguém porque
queria aguardar um posicionamento da vascular.
Neste momento não podia deixar de pensar no
texto que abre esta declaração de gratidão a Deus: “Àquele que é capaz de fazer
infinitamente mais do que tudo o que pedimos ou pensamos, de acordo com o seu
poder que atua em nós, a ele seja a glória na igreja e em Cristo Jesus, por
todas as gerações, para todo o sempre! Amém!” Ef 3:20,21. Como é bom
experimentar esta verdade. Não esperava mais que minha veia fosse recanalizada,
mas tinha a convicção que Deus me daria condições de viver da melhor forma
possível com esta limitação. De fato, Deus nos surpreende. Não merecia nada do
que ele fez por mim até hoje, não apenas nestes eventos aqui narrados, mas em
toda a minha vida. Este acontecimento realça apenas mais uma grande ação do
Deus da minha Fé.
Tenho ainda grandes desafios com
minha recuperação. Continuarei ainda frequentando a academia. Uma perna ainda é
muito mais fina que a outra. Mas agora me acompanha apenas a meia de compressão,
uma prevenção necessária para a vida toda de vitimas de trombose de membros
inferiores. O anti-coagulante e seu alarme no celular não são mais necessários.
Mas agora corro meus 15 minutos de
esteira com muito menos preocupação de estar levando meu corpo há um limite perigoso.
Deus está me concedendo uma nova fase da vida, que não esperava estar.
O legado que fica de todos estes
fatos é uma profunda gratidão a Deus. No momento em que vivia cada decepção não
poderia contemplar as grandes coisas que Deus fez por mim neste período.
O conselho que posso deixar para
os queridos que se dedicaram a ler estas linhas até este ponto é: Não deixe que a decepção de uma frustração
de expectativa lhe faça esquecer que Deus é capaz de fazer infinitamente mais
do que pedimos ou pensamos, mesmo que não seja no tempo e forma que acreditamos
ser o melhor para nós.
Presb. Wilson Souza Junior
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