terça-feira, 19 de dezembro de 2017

O último passo

Geralmente não refletimos sobre vida com a atenção e profundidade que deveríamos. Talvez, o mais longe que vamos neste exercício seja realizado num momento fúnebre, onde não temos escolha, somos forçados pela realidade exposta diante de nós, a lembrar que a vida é breve. Contudo, mesmo em momentos assim tendemos a ser superficiais! O que quero dizer é que tendemos a refletir, quase que sem exceções, sobre os últimos passos de caminhada daquele inerte diante de nós.

Como ele estava nas últimas semanas? Eu me lembro das últimas coisas que ele fez hoje de manhã! Quais foram às últimas frases dele? Em nosso último encontro eu percebi que ele estava meio triste! Estes assuntos são os que, que via de regra, dirige as conversas em um velório ou no seio familiar onde a notícia fatal é pronunciada.

Porque nós esquecemos, ou preferimos não ressaltar outros passos da caminhada? 
Lembremo-nos de que tais passos podem ter sido determinantes a cerca de como os últimos se deram. Porque então insistimos em deixar de comentar que toda caminhada começa com uma ideia e que cada ideia surge em um momento e é profundamente influenciada por um sentimento?

Pessoalmente, imagino que a nossa fuga em pensar sobre os passos que antecedem o último na caminhada de um ser, é um meio falso de nos protegermos, pois uma vez que começarmos a pensar num campo mais amplo de uma vida, corremos o risco de automaticamente fazer o mesmo conosco!

Em 2016 fomos informados de que um pastor presbiteriano tirou a sua própria vida, este ano tomamos conhecimento de que outro ministro assembleiano tomou a mesma decisão! Tais fatos apontam para uma realidade pouco comentada, refiro-me ao fato de que os pastores precisam de ajuda tais como qualquer outro membro do corpo de Cristo!
·         Pastores também são pecadores.
·         Pastores também têm problemas pessoais.
·         Pastores também têm expectativas que não se tornaram, nem se tornarão realidade.
·         Pastores também têm dúvidas.
·         Pastores também se cansam.
·         Pastores também se irritam.
·         Pastores também sentem necessidade de se entreter.

O ministério pastoral é maravilhoso, mas também pode ser extenuante! Se analisarmos os passos que desembocaram em um suicídio de um pastor, provavelmente chegaremos a um quadro parecido com o que tentamos descrever abaixo:

1. A igreja de modo geral espera que o pastor se mostre perfeito na caminhada.
·         Ele deve ser visitador, mas não deve incomodar os membros.
·         Ele deve ser um excelente pregador!
·         Ele deve ser um exímio professor!
·         Ele deve assistir diretamente todas as pessoas da igreja.
·         Ele deve estar presente em todas as reuniões.
·         Ele deve sorrir sempre!

2.  O pastor acaba acreditando em sua caminhada que de fato é um homem perfeito.
·         O pastor deseja suprir a expectativa da igreja.
·         O pastor faz da expectativa da igreja o seu plano de vida.

3.  A igreja descobre durante a caminhada que o pastor não é perfeito.
·         Geralmente quando isso acontece, a honra que deveria ser conferida ao pastor é esquecida.
·         As críticas cruéis surgem.
·         As oposições tornam-se pessoais e desrespeitosas.
·         A pressão sobre o ministro triplica.
·         Os dízimos são negligenciados.
·         O pastor é trocado por outro.

4.  O pastor descobre durante a caminhada, que de fato não conseguirá atender as expectativas da igreja.
·         A tristeza toma conta do coração.
·         O ativismo assume a prioridade.
·         A família é negligenciada.
·         A carência por aprovação torna-se insana.
·         A frustração é inevitável

5.  O pastor não pede ajuda na caminhada.
·         Ele teme que os outros o considere um pastor fraco.
·         Ele não quer que sua esposa se sinta mais pressionada do que já se sente.
·         Ele não encontra à sua volta, nem em sua memória um amigo em que possa confiar, talvez até porque em sua busca por ser perfeito na caminhada não conseguiu sedimentar uma amizade verdadeira.

6.  O pastor desiste de caminhar
·         A exaustão não o deixa pensar com sobriedade.
·         A tristeza não o deixa se lembrar do quanto ele é querido por Deus.
·         A pressão não o deixa se lembrar do quanto ele é querido por sua família.
·         A frustração o faz esquecer-se da companhia e do consolo do Espírito Santo.
·         As criticas o impedem de descansar no amor incondicional de Deus.
·         O pastor resolve dar o último passo por conta própria.

Diante do exposto, convido às igrejas a olharem para seus pastores como irmãos que precisam de ajuda tais como todos os demais membros do corpo de Cristo. Ame os seus pastores, cuide deles, porque eles se esforçam ao máximo para na dependência de Deus e sob a orientação do Espírito, cuidar de vocês.

Aos pastores, peço encarecidamente que não caiam no erro de fazerem da expectativa da igreja o plano de suas vidas. Esforcem para cuidar do rebanho de Deus, mas não pensem que as vitórias deste rebanho dependem de você ou que todas as derrotas dele é culpa sua. Parem e pensem nos passos em que estão dando durante a caminhada pastoral. Peçam ajuda quando precisarem, pois todos sabemos que não podemos caminhar sozinhos!

Rev Alencar Torres da Silva

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